Museu, memórias e afetos do Rincão Chirca
Memória e afetos em museu quilombola virtual
Histórias e saberes do quilombo Rincão da Chirca são reunidos em plataforma online, que oferece experiência ligada à oralidade
por Marcela Martins
A memória do povo negro no Brasil é fruto de um processo de resistência. Não faltaram tentativas de apagamento dos saberes e epistemologias da população advinda de diferentes reinos africanos, que aqui foi escravizada. Resistência que também aconteceu por meio da formação de quilombos - territórios em que o povo negro conserva tradições e relações sociais próprias. Na região mais branca do país, marcada pela colonização europeia, está o quilombo Rincão da Chirca. Localizado em Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul, o quilombo preserva saberes ancestrais; e de lá vem o projeto de um museu que se propõe não só a salvaguardar estes saberes como a fazê-lo à partir da lógica africana de transmissão do conhecimento pela oralidade.
O Museu, Memórias e Afetos do Rincão da Chirca é um site desenvolvido durante a 3º edição do Laboratório de Emergência Covid19, promovido pela Silo - Arte e Latitude Rural. Lá estão reunindo relatos orais, documentos, textos, e fotografias sobre a história dessa região. A organização do site não é linear e compartimentada como a que estamos acostumados: a tentativa foi seguir a lógica da oralidade, de forma que quem acessa o conteúdo se aproxima, minimamente, da experiência de ouvir e aprender de forma não sistematizada.
Para isso foi utilizada a analogia da Maria Espiga, uma boneca feita de espiga de milho muito comum no quilombo. A Maria Espiga é um brinquedo, mas falar sobre ela não é falar apenas do jogo: é falar da semente crioula, das tradições de cultivo, do alimento e de tudo que perpassa espiga e por ela é simbolizado. Assim também é organizado o museu virtual, com informações entrecruzadas, interrelacionadas, que integram ciência, cultura e tradições negras que operam de forma integrada na constituição do seu povo.
O LAB DE EMERGÊNCIA
Na sua terceira edição, o Laboratório de Emergência COVID 19, promovido pela Silo - Arte e Latitude Rural, teve como tema Inflexão: Estratégias e Novas Narrativas. Nas três edições do laboratório já foram mais de 60 projetos desenvolvidos, com o envolvimento de 400 colaboradores de todo o Brasil e de outros países. São iniciativas em ciência, tecnologia, inovação, educação, sustentabilidade; com foco em soluções para a crise gerada pela Covid19. As propostas são provenientes e/ou voltadas principalmente para ambientes rurais e periferias. Todos os projetos têm licença livre e podem ser replicados. A documentação e detalhes dos processos de desenvolvimento dos projetos estão disponíveis no site https://labdeemergencia.silo.org.br/