Roteiros Animais
Novas epidemias e relações multiespécies
O vírus que tinha o morcego como hospedeiro se tornou o problema mais urgente da humanidade. Projeto aposta na educação multiespécies para discutir uma relação mais saudável do homem com outros animais
por Marcela Martins
O processo acontece desde sempre: um vírus que tem certa espécie animal como hospedeiro se adapta e migra para outra espécie, causando uma doença nova para esse grupo de animais. O coronavirus, causador da Covid-19 não é a primeira zoonose que se torna uma doença humana. A disseminação na nossa espécie de um vírus que causaria sérios danos estava no horizonte de virologistas e epidemiologistas há muito tempo. É claro que não se sabia como ele seria, e o que causaria. Mas o alerta já tinha sido feito.
A corrida no momento é por uma vacina que possa frear o contágio do vírus que assola a humanidade. Mas a verdade é que a Covid-19 não é a última epidemia que iremos enfrentar. E a culpa não é dos animais silvestres que são os hospedeiros originais do vírus. Muito pelo contrário, a destruição de seus habitats e a relação predatória que o homem estabeleceu com muitas dessas espécies são fatores que contribuem para a disseminação de vírus novos para o homem.
Discutir a relação multiespécies (humanos, animais domésticos e não domésticos), inclusive no tocante à viroses pandêmicas, é o objetivo de um projeto desenvolvido durante o Laboratório de Emergência Covid-19, promovido pela Silo - Arte e Latitude Rural em parceria com o Instituto Procomum. A iniciativa busca discutir saúde única e ciência cidadã, por meio de roteiros educativos sobre o tema.
O Roteiros Animais tem por base um projeto desenvolvido na Serrinha do Alambari, cidade de Resende, Rio de Janeiro. A população local vive uma relação mais intensa com animais silvestres. O projeto discute o impacto da urbanização cada vez sobre eles, especialmente no tocante à relação com os animais “de estimação” e nas trocas biológicas que acabam acontecendo entre eles e nós, humanos.
Os Roteiros serão divulgados prioritariamente para estudantes, professores e mediadores de aprendizado do ensino médio e superior, por meio das redes sociais. A expectativa é que o projeto gere engajamento de pelo menos cinco mil pessoas num período de três meses, nas mídias usadas e no site. O foco dos pesquisadores é colaborar na construção de uma nova normalidade pós-pandemia, que passe pelo estabelecimento de outra relação com a natureza e com os animais.
O LAB DE EMERGÊNCIA
A segunda edição do Laboratório de Emergência COVID–19 é uma iniciativa da Silo - Arte e Latitude Rural junto ao Instituto Procomum. Ao todo foram 16 projetos desenvolvidos de maneira solidária, por 45 proponentes e 140 colaboradores das mais diversas áreas, trabalhando de maneira remota e com o apoio de mentorias especializadas. Todos os projetos são de licença livre e podem ser replicados. Toda documentação e detalhes dos processo de desenvolvimento estão disponíveis no site.