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Proteger e aprender

Vidas negras importam

Projeto cria kits de identidade racial para crianças, para distribuição durante a quarentena

por Marcela Martins

O assassinato do norte-americano George Floyd, homem negro, morto por sufocamento por um policial branco, provocou uma onda de protestos nos Estados Unidos e em todo mundo. Aqui no Brasil, mais um assassinato de jovem negro entrava nas estatísticas: João Pedro, de 14 anos, foi baleado pela polícia dentro de casa. Semanas depois, o menino Miguel, negro, de cinco anos, morreu ao cair do nono andar de um prédio de luxo. A mãe era empregada doméstica, e a criança estava sob responsabilidade da patroa branca por alguns minutos, que permitiu que ele entrasse no elevador desacompanhado. A fala do manifestante Wesley Teixeira, em ato no Rio de Janeiro, resume a urgência de ações contra o racismo, mesmo durante este período de enfrentamento ao coronavirus: “Viemos para a rua porque foram nos matar em casa”.

A proposta do Proteger e Aprender é aproveitar a quarentena para promover ações de educação com as crianças sobre identidade racial e cultural. O projeto é do coletivo Afrotu, da baixada santista, e foi desenvolvido durante o Laboratório de Emergência Covid-19, promovido pela Silo - Arte e Latitude Rural em parceria com o Instituto Procomum.

O coletivo é composto por afroempreendedores e movimentou uma rede de artistas e artesãos negros. Os kits de identidade racial vão ser compostos por objetos vinculados à importantes narrativas de identidade negra. Estão sendo produzidas máscaras de proteção de tecido com estéticas africanas. Também serão distribuídos livros de autoras e negras e bonecas Abayomis. As Abayomis não tem costura, são feitas com nós e tranças. Sua origem foi uma forma de resistência: eram feitas por mulheres africanas escravizadas, que rasgavam retalhos de suas saias e confeccionavam as bonecas para acalentar os filhos nos navios negreiros. A boneca serviu para muitos como um amuleto de proteção. Abayomi significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, língua de uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.


O LAB DE EMERGÊNCIA

A segunda edição do Laboratório de Emergência COVID–19 é uma iniciativa da Silo - Arte e Latitude Rural junto ao Instituto Procomum. Ao todo foram 16 projetos desenvolvidos de maneira solidária, por 45 proponentes e 140 colaboradores das mais diversas áreas, trabalhando de maneira remota e com o apoio de mentorias especializadas. Todos os projetos são de licença livre e podem ser replicados. Toda documentação e detalhes dos processo de desenvolvimento estão disponíveis no site.