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Criminalização, renda e pandemia. A realidade e o futuro dos bailes funks e de quem os produz

Segue o baile

Pesquisa na favela do Jacarezinho investiga impactos econômicos da suspensão dos bailes funks; e propõe questões sobre o baile do futuro

por Marcela Martins

O Brasil tem centenas de bailes funks realizados regularmente em favelas. Nas maiores, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, eles são eventos impressionantes, que atraem um público de milhares de pessoas em cada edição, gerando uma migração de pessoas de diferentes bairros e até de outros estados. A multidão lota as ruas apertadas pelo menos duas vezes por semana, consome, movimenta a economia das periferias. Na favela, além de ser a principal forma de entretenimento, o fluxo é o que garante a renda de muita gente.

“Segue o baile” é uma gíria comum entre os fre quentadores, e por um motivo. Tentativas de impedir a realização de bailes funk são comuns. Na maioria das vezes, o maior problema é a ação repressora da polícia militar. O ritmo já sofreu até mesmo uma tentativa oficial de criminalização: em 2015 um projeto de lei que previa a proibição do funk chegou a circular no congresso nacional. Inconstitucional, não foi aprovado. Mas o episódio escancara a realidade de repressão dessa cultura.

A epidemia de Covid19 não é, portanto, o primeiro desafio que os bailes enfrentam. Mas ela traz questões inéditas e problemas diferentes. É um momento em que aglomerações estão proibidas, e que, de fato, o isolamento social faz-se necessário. Neste contexto, os bailes precisam parar. Mas como ficam os profissionais que viviam desses eventos? São produtores, MCs, DJs, técnicos de aparelhagem e som, vendedores ambulantes, comerciantes, pessoas que alugavam suas lages, motoristas de vans… qual o impacto financeiro nestes trabalhadores e nessas populações?

Investigar essa situação na favela do Jacarezinho é a proposta de um projeto desenvolvidos no Lab de emergência COVID19 - Reconfigurando o futuro, promovido pela Silo - Arte e Latitude Rural em parceria com o Instituto Procomum. O grupo elaborou uma pesquisa que traça o perfil socioeconômico dos trabalhadores do baile funk da região. O objetivo é entender qual é a real situação dessas pessoas, e saber como ficou seu poder de consumo. Também estão previstos recortes de gênero e raça. O grupo vai aplicar a pesquisa e fazer a tabulação dos resultados. As informações podem subsidiar ações de minimização dos impactos junto à comunidade local.

Outra frente de trabalho é a reflexão e a pesquisa acerca de como será o baile funk do futuro. De que maneira os eventos tendem a se adaptar à essa nova realidade? Um dos receios é que a criminalização dos bailes funks seja intensificada, e que agora o discurso de repressão apareça justificado pela necessidade de evitar aglomerações.


O LAB DE EMERGÊNCIA

A segunda edição do Laboratório de Emergência COVID–19 é uma iniciativa da Silo - Arte e Latitude Rural junto ao Instituto Procomum. Ao todo foram 16 projetos desenvolvidos de maneira solidária, por 45 proponentes e 140 colaboradores das mais diversas áreas, trabalhando de maneira remota e com o apoio de mentorias especializadas. Todos os projetos são de licença livre e podem ser replicados. Toda documentação e detalhes dos processo de desenvolvimento estão disponíveis no site.